quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Membro do COI ataca EUA por incluir gays em delegação


Não, você não leu errado: Mario Pescante, membro do Comitê olímpico internacional desde 1994, preferiu agir como se estivéssemos ainda no ano em que entrou no órgão, e considerou "absurda" e "ultrajante" a decisão dos EUA de incluir atletas gays a delegação que irá para Sochi mês que vêm, para as olimpíadas de inverno. 

Pescante viu na decisão do presidente Obama de incluir três atletas abertamente gays  - a tenista Billie Jean King, a lenda da patinação Brian Boitano e a jogadora de Hockey Caitlin Cahow - na delegação americana como um insulto ao governo de Vladimir Putin e sua legislação discriminatória contra gays e lésbicas. 

Como relatado pela Associated Press:
"É um absurdo que um país como esse envie quatro lésbicas¹ para a Rússia apenas para demonstrar que no seu país direitos lgbt (foram estabelecidos)", Mario Pescante disse em uma reunião do comitê olímpico italiano, em Milão nesta quarta-feira, em comentários difundidos pela imprensa italiana. "Os jogos não devem ser uma ocasião e um palanque para promover direitos que esportes apoiam diariamente".
Com vinte anos de carreira dentro do COI, era de se esperar que Pescante soubesse que os Jogos Olímpicos frequentemente serviram de palco para questões políticas - indo ao menos desde 1936 e Jesse Owens (ironicamente, dado que Owens enfrentou mais discriminação de volta pra casa do que na Alemanha); Mesmo se tratando destas Olimpíadas de Inverno, a politização veio muito antes, com o presidente da  Alemanha anunciando o boicote aos jogos em repúdio ao governo russo - e relembro que não é a primeira vez que os jogos são boicotados. Ora, a Rússia boicotou os jogos em 84, após os EUA boicotarem em 1980 - Mas aparentemente Pescante ignora tudo isso.

Mas mesmo que se ignore tudo isso. O mínimo que se esperava era que Pescante percebesse o quão ridículo e absurdo é querer manter atletas de fora dos jogos por sua orientação sexual - e ainda dizer que os jogos olímpicos apoiam os direitos desses grupos - para não ofender um governo que vêm cometendo com os homossexuais o mesmo que a Alemanha nazista fez com os judeus antes da solução final, como bem apontou o comediante judeu e homossexual Stephen Fry.

Ou para por em uma frase simples: "nós apoiamos os direitos dos gays, mas como eles são contra, eu acho que vocês atletas gays deveriam ficar de fora, e é um absurdo dizer que vocês podem participar". E eu aqui pensando que era 2014, e não 1984... Há quem diga que devemos pensar apenas nos jogos, que é só diversão e esporte e espírito olímpico. Pois me digam... cadê o espírito esportivo em dizer "você é gay, tem gente que acha que você não deve ter direitos, então você jogar - não acharem que você não deva ter direitos, você jogar- é um absurdo"?
Aparentemente, é isso que Pescante defende. 

¹Engraçado que só vi duas lésbicas na delegação americana.

²Em um flagrante de hipocrisia, o homem que autorizou a legislação homofóbica (que "proíbe propaganda gay" - termo que incluí dois homens de mãos dadas e músicas da Lady GaGa) disse que homofobia será inaceitável nas olimpíadas.


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