quinta-feira, 30 de abril de 2015

O massacre da educação


Fonte: APP-Sindicato dos Trabalhadores em
Educação Publica do Paraná
Balas de borracha. Gás lacrimogênio. Sprays de pimenta. Blindados. Cães treinados. Atiradores de elite e sangue derramado. Os alvos desses instrumentos de repressão? Os professores do Estado do Paraná. Enquanto estes lutavam para preservar seus direitos previdênciários, o governador Beto Richa (PSDB) os tratou da mesma maneira que ditadores do oriente médio: na base de tiro, porrada e bomba.

A grande mídia chamou o absurdo de “confronto”. Tal denominação se aplicaria se houvessem algum princípio de igualdade de forças em jogo. No entanto, o que se viu foi uma disparidade sem igual: de um lado, policiais equipados com todo o aparato de repressão que o estado pode custear. Do outro, professores que, se tanto, tinham paus e pedras. É o equivalente a dizer que Tian An Mén*, Ferguson* ou Kobane* foram “confrontos”. O grau de violência pode não ser o mesmo, mas a disparidade de forças é igualmente evidente. Chamemos como é: um massacre.

Se há algo de “notável” na truculência de Beto Richa é quanto da máquina estatal foi movida para isso. Veículos do BPFron (Batalhão de Fronteiras) da Polícia Militar do Paraná foram convocados para auxiliar na repressão aos manifestantes, enquanto a Assembléia Legislativa votava a manobra fiscal que alterava a forma de pagamento das aposentadorias. O batalhão normalmente opera à cerca de 600 km da capital, na triplíce fronteira.

Segundo Luís Domingos Costa, professor de Ciências Políticas da Uninter, entrevistado pela Gazeta do Povo, este foi o pior episódio de repressão já vivido no estado do Paraná. O único episódio comparável ocorreu em 1988, sob o governo do hoje senador Alvaro Dias (PSDB), quando uma greve de professores foi recebida com a cavalaria da polícia militar e bombas de efeito moral. No entanto, enquanto o episódio desta semana deixou mais de 200 feridos e dez presos, em 88 foram “apenas” dez feridos e cinco presos.

De imediato, Richa defletiu sua responsabilidade: a culpa, diz o governador, é do PT, do PSTU, do PSOL, da CUT... em outras palavras, “é a ameaça vermelha”. São os movimentos trabalhistas e a esquerda “implantando o caos no país”. Chegaria a ser ridículo, não houvessem tantos dispostos a apoiar esse discurso saído diretamente dos anos 50.

Não há muito que possa ser dito em defesa de um governo que se julga correto em agredir professores. A posição do governo do Estado do Paraná é clara: “abaixem suas cabeças”. O mesmo ironicamente se aplica aqueles que serviram como cães de guarda do governador nessa tragédia anunciada. Em 2012, o tucano declarou que era “bom” que os PMs do estado não precisassem de diploma, pois “pessoas com formação superior são insubordinadas”. Richa não se interessa por autonomia. Ele quer peões dispostos a fazer o seu trabalho sujo, coisa que se vê claramente na prisão de 17 policiais e a sua possível exoneração por se negarem a reprimir os protestos de professores.

 

*O massacre da Praça da Paz Celestial, em 1989, quando o Exército de Libertação Popular da China reprimiu com toda a força militar do partido o protesto de estudantes e intelectuais pedindo por abertura política. A repressão deixou centenas de mortos e entre sete e dez mil feridos.

*Ferguson, Missouri: os protestos em resposta  a morte de Michael Brown, baleado seis vezes por um policial, resultaram em equipamento militar sendo usado para reprimir protestos, deixando 200 presos e 11 feridos. Para defender a operação, a policia local alegou que os manifestantes queriam “policiais mortos”.

*Kobane: Protestos pela independência kurda após o fim do cerco a cidade de Kobane no norte da Siria foram repreendidos com violência pelas forças de ocupação turcas, em 2014. Ao fim dos protestos, a polícia e o exército turco deixaram 12 mortos. Protestos subsequentes pela Turquia resultaram em mais 31 mortes.