quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Mais conflito entre polícia e MPL em Joinville

As coisas seguem de mal a pior em Joinville: após uma manifestação empolgada do MPL nesta quarta-feira, mais uma vez viu-se o aparato policial atropelar os limites da legalidade, com a prisão de três dos manifestantes, efetuada após o término da manifestação, sem mandato judicial, flagrante ou justificativa. Uma prática lamentavelmente cada dia mais comum para reprimir o direito a expressão e a manifestação de movimentos sociais. 

O MPL atirou ovos contra a Prefeitura e a sede da PasseBus (a empresa de cobrança de ônibus), fez uma pequena pira em frente a PasseBus, e saltaram a catraca do terminal de ônibus. Apesar da repressão, o tom foi positivo: não poucos alardeavam uma manifestação ainda maior por vir. 

A manifestação já foi conturbada antes, segundo me relatou uma participante: Policiais Militares faziam ameaças verbais e visuais contra os membros do Movimento Passe Livre, empunhando os cassetetes. Ao mesmo tempo marcavam possíveis lideranças. Em outro momento, um PM começou a proferir obscenidades para outro policial. Segundo outra manifestante, ameaças veladas foram feitas contra participantes. 

Hostilidade também emergiu da população: em um momento, um motorista acelerou e tentou atropelar os manifestantes.  Um grupo de "playboys" tentou desmerecer o movimento, dizendo que os jovens deveriam "estudar e trabalhar", ao invés de "fazer manifestação por passe livre". Ao mesmo tempo que se via essa hostilidade, o grosso da população pareceu dar apoio ao ato: quando os membros do MPL passaram a pular as catracas, grande parte dos transeuntes pulou junto, segundo o MPL. 

Essa hostilidade aos manifestantes acaba sendo um sintoma de um problema maior: a rejeição aos movimentos sociais, no caso o MPL, causada em parte por um discurso da imprensa de que os manifestantes não sabem o que querem, e que seria coisa de gente "com tempo livre demais". A mesma hostilidade se nota contra outros movimentos sociais, como com o MST, a Marcha da Maconha (que é explicitamente chamada de coisa de "vagabundo") e com as feministas, que tem o adicional de além de serem chamadas de desocupadas, tem uma dose extra de insultos machistas. 

O relato, segundo o Movimento Passe Livre
de Joinville.
Mas como já disse, o pior ocorreu  depois do termino da manifestação: três lideranças do movimento foram detidas, sem mandato judicial, na Avenida Getúlio Vargas; segundo relatos no Facebook, a PM parou o ônibus em que três manifestantes estavam, e os levou ao 5º DP, depois de agredir um deles. Não tive informações do motivo da prisão, ou se o trio já foi solto até o fechamento deste texto. 

No entanto, tenho que notar o aumento gradual da repressão, em especial com a aproximação das eleições e da Copa do Mundo; é de conhecimento público as tentativas de setores dentro do legislativo de enquadrar os movimentos sociais como sendo "terrorismo", ou formação de quadrilha, e assim facilitar a prisão de lideranças civis e estudantis. Da mesma maneira, prisões sem justificativa e flagrantes forjados estão se tornando cada dia mais comuns em manifestações como esta - e isto não pode levar ao silenciamento; cada injustiça destas deve servir de motivo para mais  manifestações - seja contra o preço absurdo das passagens e o cartel do transporte coletivo em Joinville, seja contra qualquer outra das mazelas sociais do país. 

Ou corremos o risco de silenciarmos-nos para sempre. 

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