segunda-feira, 17 de junho de 2013

E o Brasil se ergueu...

O auge do levante popular: A casa do povo é do povo. 
Aconteceu, o jogo virou, as coisas mudaram, e em uma tacada só, o Brasil se viu tomado por manifestantes no mais intenso episódio da "Marcha do Vinagre". Contrariando aqueles que achavam que era um movimento pequeno, os números escancaram a realidade: Em São Paulo, são 65 mil; no Rio, 100 mil; em Brasília, foram mais de 5 mil. Outros 20 mil foram as ruas em Belo Horizonte, e o padrão se repetiu por todo o país. Unidos na luta contra um sistema opressor que já cruzou os limites do tolerável, e sem medo de lutar por um amanhã com mais dignidade - e não este presente violento, cujos problemas já citei anteriormente.

Rio de Janeiro.
No ápice da movimentação popular desta segunda-feira, um dos símbolos máximos do poder público se viu tomado quando os manifestantes ocuparam o congresso nacional. Com pouca por parte da polícia do Distrito Federal, ao que tudo indica: excluindo dois jovens presos por jogar água em policiais, a PM se restringiu a observar enquanto os revoltosos ocupavam a Mecca do legislativo. No Rio de Janeiro, a Assembléia Legislativa foi invadida: O povo tomou aquilo que é a casa do povo. E como de costume, a reação policial foi feita com bombas e balas de borracha. Em um exemplo homérico de hipérbole, o presidente da Alerj chamou a ocupação de "Terrorismo".

Assim como nas noites anteriores, a situação foi marcada pelo enfrentamento e pela violência, mas nenhum incidente individual superou o ocorrido em Maceió, onde um homem furou o bloqueio dos manifestantes e baleou um rapaz de 16 anos no rosto. essa pode ser a primeira vítima fatal na Marcha do Vinagre, se confirmado o óbito. Vitima não da repressão policial e de um estado opressor, mas da ignorância de um cidadão indisposto a aceitar a luta alheia por direitos - e que comprou a retórica falsa do "protesto de vagabundos e baderneiros".

O cenário favorece a Revolta do Vinagre: Em Belo Horizonte, as manifestações contaram com o apoio da polícia Civil. Através da Internet, um grupo feminista alertou das medidas beirando o estupro adotadas pela PM contra manifestantes: segundo o texto de orientação, "Os PMs estavam enfiando cacetetes debaixo das saias para desestabilizar emocionalmente as manifestantes". E na primeira manifestação em São Paulo sem a presença de tropa de choque, o andamento foi tranquilo e em tom de celebração.

Largo da Batata -SP
 O que isso representa para o futuro dos protestos, é difícil dizer. Se a PM irá ampliar a brutalidade, apenas o futuro pode revelar. Embora os movimentos já tenham recebido mensagens de apoio de alguns policiais, a grande maioria ou tem medo de represálias ao juntar-se as manifestações, ou não tem interesse. E enquanto em São Paulo o evento foi pacífico, no resto do país o cenário é tão feio quanto na última quinta-feira.

Como de costume nessas situações, a mídia tem feito um imenso desserviço. Mesmo após o fiasco da cobertura dos protestos de São Paulo na semana passada, cuja racionalização da brutalidade policial culminou na violência contra os próprios jornalistas, a velha imprensa repete o erro de pintar os manifestantes como vândalos e criminosos. Em um caso absurdo, a Globo News chegou a alegar que "a violência da polícia é justificável nos próximos manifestos"
"Quem foi para se manifestar, exercer seu papel cívico, exigir direitos, fez e foi para casa. Quem ficou agora quer a desordem, estão cometendo crimes, assaltando" - Globo News
São Paulo, novamente. 
A rejeição ao discurso global é tamanho, que na concentração de manifestantes no Largo da Batata, em São Paulo, a população expulsou o jornalista Caco Barcellos, que deixou o local sob xingamentos dirigidos à emissora. Situação emblemática - e lamentável, em vista do profissionalismo de Barcellos - da crise de credibilidade da Globo.

Não que não tenha ocorrido incidentes de violência por parte dos manifestantes, mas como bem faz o favor de lembrar o apresentador do Cidade Alerta, os ataques,  como o realizado com coquetéis molotov no Teatro Municipal e na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, podem ser obra de PMs infiltrados no movimento - tática velha da repressão desde anos remotos, uma especialidade da Ditadura, e que é citada até em obras seculares como Os Miseráveis (do francês Victor Hugo).

Belém.
E quanto aos grandes políticos, e o grupo de "interesse" do momento... por um lado, a Presidenta Dilma Roussef afirmou em nota que "as manifestações são legítimas" - porém simultaneamente o Distrito Federal moveu mais 3.500 soldados, incluindo 100 membros da polícia do exército, para "proteger o patrimônio público" após a ocupação do Congresso Nacional. Outros políticos foram ouvidos pela imprensa - suas falas seguem aqui.

Já para o secretário geral da Fifa, Jeróme Valcke, o problema é nosso "excesso de democracia". Alguém explique o que é isso? O que viria a ser "excesso de democracia"?

Porém o horror não acaba aí: segundo a confiabilíssima investigação da Polícia Militar do Distrito Federal e da rede Globo, os "líderes" (em um movimento descentralizado...) dos protestos de Brasília seriam todos funcionários do gabinete da Presidência. Além de escancarar a total falta de compreensão que antiga vigia da ditadura tem sobre a situação, essa informação revela a tara golpista dos militares.

É o novo "Jango está indo para a China, só pode ser comunista". Munidos de tal incrível evidência da culpabilidade de Dilma Rousseff nos protestos (contra ela, mas quem liga), faltará pouco para que aleguem que é tudo "uma tentativa de implantar uma ditadura comunista no Brasil" e cocem aquela sarna maldita da nossa direita reacionária e ignorante para voltar aos "bons tempos" da "ditabranda", como horrendamente chamou uma vez a Folha de São Paulo. Mantenhamos-nos firmes, tempos sombrios virão, mas o sol há de raiar novamente.



2 comentários:

  1. Ótimo texto, Pedro.
    O Brasil ainda é uma democracia recente, e estamos apenas aprendendo a conviver com ela.
    Infelizmente sempre existirão os que se aproveitam de situações como esta, sejam os "direitistas reacionários", sejam os oportunistas da "extrema esquerda".

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