Uma imagem bela de um movimento nada admirável |
Isso, e os jovens com mascaras de Guy Fawkes e cidadãos "engajados" que até semana passada desprezavam os movimentos sociais, munidos cartazes de propostas as vezes bem pensadas, as vezes genéricas, as vezes horríveis ("Abaixo a ditadura do Ibama" foi a que me deixou mais estupefato, junto com "Joinville está com você Marcos Feliciano) - mas nenhuma delas local. Queriam que Joinville por si só resolvesse problemas do governo federal. 10 mil cidadãos em marcha - e a maioria parecia não saber o que é atribuição do governo local.
Participei da manifestação aqui em Joinville, junto ao pessoal do Movimento Passe Livre - e de início as coisas estavam boas: muita gente na rua, o MPL com uma pauta bem definida, um protesto tranquilo (talvez até demais)... Apesar da horda de PMs que vi mais cedo, o primeiro sinal da presença policial que vi foi quando passamos em frente ao Bradesco - e nas palavras de uma amiga, eles estavam "de boas".
Mas conforme as coisas avançaram, eu fui lentamente sendo puxado "para trás" da mobilização, onde estava o pessoal não ligado ao MPL. E aí as coisas começaram a me incomodar - eram gritos de Abaixo à Corrupção, cartazes contra a Copa, "Não queremos mais dentistas queimadas", e outras causas que nada tinham a ver com o movimento - alguns casos, eram até contrários às causas do MPL. No lugar das palavras de ordem do MPL, vinha o ufanismo do hino nacional e "Eu sou brasileiro, com muito orgulho". Quando foi que entrei em um movimento nacionalista, não sei dizer - mas era o que me cercava.
Quando chegamos a altura do Terminal do Centro, havíamos perdido o MPL de vista - e a multidão se espalhou. A travessia do terminal em si foi a parte mais insólita: quando que se permitiu que manifestantes entrassem no terminal? Parte do grupo "tomou" a Prefeitura (simplesmente ficando em frente a mesma) aos gritos de "A prefeitura é nossa", enquanto um punhado deles ainda emendava "Fora Carlito" - o grau de alienação pode chegar a esse nível de não saber quem é o prefeito?
Me ausentei da manifestação brevemente para acompanhar uma amiga de volta ao centro enquanto "ocupavam" a Prefeitura. Quando retornei, vi jovens com máscaras de Guy Fawkes e cidadãos com cara pintada desorientados, ignorando a marcha do MPL, e achando que por terem parado em frente a Prefeitura estava terminada a manifestação. No geral, em Joinville foi tranquilo - mas ainda assim... vazio. E após o fim da passeata (que mais pareceu marcha cívica), vimos os mesmos alienados protestando no Facebook porque o MPL "havia roubado a manifestação".
Anteriormente haviam tentado expulsar o PSOL e Leonel Camasão da manifestação, acusando os de oportunismo, quando o PSOL, e mais ainda o Leonel sempre estiveram envolvidos com os protestos do MPL. Agora, de maneira muito pouco sútil, tentavam "desconvidar" a Esquerda e o Passe Livre para as próximas manifestações - no caso, um ato contra a PEC 37, neste sábado. Nós podemos ir, é só "não chamar atenção", para colocar nas entrelinhas.
Agora o resto do país...
Enquanto em Joinville o problema foi a falta de direção dessa massa desgovernada e anti-partidária (mas que se acha apartidária), combinada com uma dose considerável de alienação, no resto do país a situação foi grave - e violenta, apesar dos gritos de "Sem violência". Com 1,2 milhão de pessoas nas ruas, o resultado não foi nada bonito. Começando por São Paulo, onde o MPL desistiu da mobilização frente as pautas conservadoras (como redução da maioridade penal, estatuto do nascituro, "mais segurança"), o que se viu foi um espetáculo de fascismo.
Aos gritos, tapas e pedras, os partidos da esquerda (mas só os da esquerda) e os movimentos sociais foram sendo expulsos do movimento. Resta agora só uma onda nacionalista desgovernada "apartidária" mas que assume as pautas da direita. Pedem por mais segurança usando como causa a dentista queimada viva em São Bernardo do Campo - mas não levantam a voz para pedir segurança aos jovens de comunidades carentes que são mortos todos os dias. Gritam pelo Impeachment da Dilma e ao PT, mas nada de berros de fora Alckmin. Se "solidarizaram" com o MPL após a repressão - mas agora são violentos com a esquerda e o próprio MPL, e são amigáveis com a PM.
Militantes e transeuntes foram agredidos pelo simples fato de usarem vermelho, sob os gritos de "o protesto é para todos" e "fora comunista" (chega a ser hilário que não notem a contradição). Aqui em Joinville, a resposta dada a quem criticou a tentativa de proibir a participação de partidos, sindicatos e movimentos sociais foi "A passeata é livre, é de todos, se deixar entrar deixa de ser". Puro duplipensar Orwelliano.
E agora temos essa massa cada vez mais fascista - já se fala em linchar "os comunistas", então temos estabelecido aí o "grande inimigo" - movida a um ódio por um governo que sequer sabem como funciona. Ao invés de levantarem propostas lógicas, pedem por um golpe de estado - e respondem com "não queremos golpe, só que se feche o congresso e coloquem o Barbosa no poder".
Agora Brasília discute que rumo tomar quanto as manifestações, após a depredação do Palácio do Itamaraty (por sinal: sede do ministério de Relações Exteriores, que nada tem a ver com os assuntos internos do país). Os militares repetem as velhas mentiras de que o governo atual planeja um golpe comunista. O caos crescente toma as cidades, e tudo parece apontar para um novo golpe. Meus parabéns, anti-partidários "defensores da liberdade" (contanto que não de esquerda). Vocês estão nos levando de volta a ditadura.
Espero estar errado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário