sexta-feira, 21 de junho de 2013

Estamos voltando para 1964?

Uma imagem bela de um movimento nada admirável
Tem muita gente achando lindas as manifestações que rolaram ontem pelo país. Mas tenho que dizer: o que eu vi e o que li nada tinha de belo ou admirável. Já não vi com bons olhos as tentativas de censurar os movimentos sociais na organização pelo Facebook, e menos ainda as pautas erguidas por parte dos manifestantes. A caminho da concentração, me chamou o imenso efetivo policial disponibilizado para o evento.

Isso, e os jovens com mascaras de Guy Fawkes e cidadãos "engajados" que até semana passada desprezavam os movimentos sociais, munidos cartazes de propostas as vezes bem pensadas, as vezes genéricas, as vezes horríveis ("Abaixo a ditadura do Ibama" foi a que me deixou mais estupefato, junto com "Joinville está com você Marcos Feliciano) - mas nenhuma delas local. Queriam que Joinville por si só resolvesse problemas do governo federal. 10 mil cidadãos em marcha - e a maioria parecia não saber o que é atribuição do governo local.

Participei da manifestação aqui em Joinville, junto ao pessoal do Movimento Passe Livre - e de início as coisas estavam boas: muita gente na rua, o MPL com uma pauta bem definida, um protesto tranquilo (talvez até demais)... Apesar da horda de PMs que vi mais cedo, o primeiro sinal da presença policial que vi foi quando passamos em frente ao Bradesco - e nas palavras de uma amiga, eles estavam "de boas".

Mas conforme as coisas avançaram, eu fui lentamente sendo puxado "para trás" da mobilização, onde estava o pessoal não ligado ao MPL. E aí as coisas começaram a me incomodar - eram gritos de Abaixo à Corrupção, cartazes contra a Copa, "Não queremos mais dentistas queimadas", e outras causas que nada tinham a ver com o movimento - alguns casos, eram até contrários às causas do MPL. No lugar das palavras de ordem do MPL, vinha o ufanismo do hino nacional e "Eu sou brasileiro, com muito orgulho". Quando foi que entrei em um movimento nacionalista, não sei dizer - mas era o que me cercava.


Quando chegamos a  altura do Terminal do Centro, havíamos perdido o MPL de vista - e a multidão se espalhou. A travessia do terminal em si foi a parte mais insólita: quando que se permitiu que manifestantes entrassem no terminal? Parte do grupo "tomou" a Prefeitura (simplesmente ficando em frente a mesma) aos gritos de "A prefeitura é nossa", enquanto um punhado deles ainda emendava "Fora Carlito" - o grau de alienação pode chegar a esse nível de não saber quem é o prefeito?


Me ausentei da manifestação brevemente para acompanhar uma amiga de volta ao centro enquanto "ocupavam" a Prefeitura. Quando retornei, vi jovens com máscaras de Guy Fawkes e cidadãos com cara pintada desorientados, ignorando a marcha do MPL, e achando que por terem parado em frente a Prefeitura estava terminada a manifestação. No geral, em Joinville foi tranquilo - mas ainda assim... vazio. E após o fim da passeata (que mais pareceu marcha cívica), vimos os mesmos alienados protestando no Facebook porque o MPL "havia roubado a manifestação". 


Anteriormente haviam tentado expulsar o PSOL e Leonel Camasão da manifestação, acusando os de oportunismo, quando o PSOL, e mais ainda o Leonel sempre estiveram envolvidos com os protestos do MPL. Agora, de maneira muito pouco sútil, tentavam "desconvidar" a Esquerda e o Passe Livre para as próximas manifestações - no caso, um ato contra a PEC 37, neste sábado. Nós podemos ir, é só "não chamar atenção", para colocar nas entrelinhas. 

Agora o resto do país...


Enquanto em Joinville o problema foi a falta de direção dessa massa desgovernada e anti-partidária (mas que se acha apartidária), combinada com uma dose considerável de alienação, no resto do país a situação foi grave - e violenta, apesar dos gritos de "Sem violência". Com 1,2 milhão de pessoas nas ruas, o resultado não foi nada bonito. Começando por São Paulo, onde o MPL desistiu da mobilização frente as pautas conservadoras (como redução da maioridade penal, estatuto do nascituro, "mais segurança"), o que se viu foi um espetáculo de fascismo



Aos gritos, tapas e pedras, os partidos da esquerda (mas só os da esquerda) e os movimentos sociais foram sendo expulsos do movimento. Resta agora só uma onda nacionalista desgovernada "apartidária" mas que assume as pautas da direita. Pedem por mais segurança usando como causa a dentista queimada viva em São Bernardo do Campo - mas não levantam a voz para pedir segurança aos jovens de comunidades carentes que são mortos todos os dias. Gritam pelo Impeachment da Dilma e ao PT, mas nada de berros de fora Alckmin. Se "solidarizaram" com o MPL após a repressão - mas agora são violentos com a esquerda e o próprio MPL, e são amigáveis com a PM.

Militantes e transeuntes foram agredidos pelo simples fato de usarem vermelho, sob os gritos de "o protesto é para todos" e "fora comunista" (chega a ser hilário que não notem a contradição). Aqui em Joinville, a resposta dada a quem criticou a tentativa de proibir a participação de partidos, sindicatos e movimentos sociais foi "A passeata é livre, é de todos, se deixar entrar deixa de ser". Puro duplipensar Orwelliano.

E agora temos essa massa cada vez mais fascista - já se fala em linchar "os comunistas", então temos estabelecido aí o "grande inimigo" - movida a um ódio por um governo que sequer sabem como funciona. Ao invés de levantarem propostas lógicas, pedem por um golpe de estado - e respondem com "não queremos golpe, só que se feche o congresso e coloquem o Barbosa no poder".

Agora Brasília discute que rumo tomar quanto as manifestações, após a depredação do Palácio do Itamaraty (por sinal: sede do ministério de Relações Exteriores, que nada tem a ver com os assuntos internos do país). Os militares repetem as velhas mentiras de que o governo atual planeja um golpe comunista. O caos crescente toma as cidades, e tudo parece apontar para um novo golpe. Meus parabéns, anti-partidários "defensores da liberdade" (contanto que não de esquerda). Vocês estão nos levando de volta a ditadura.

Espero estar errado.

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