quarta-feira, 19 de junho de 2013

A chantagem de Feliciano

"Se governo interferir na cura gay, haverá rebelião evangélica" - Marco Feliciano

Pois é: enquanto ninguém olhava, o figura ao lado foi e fez o que há muito ameaçava fazer... Colocada na pauta da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, sob a presidência do racista e homofóbico pastor Marco Feliciano (PSC), nesta terça-feira, o projeto de lei que autoriza a "cura gay" foi aprovado na surdina - e agora segue para o plenário da Câmara.

Por si só a validação de tal excrecência é estarrecedora: como aceitar que em 2013 a Câmara dos Deputados do segundo maior país das Américas leve em frente a ideia de tratar homossexualidade como doença? E que seus legisladores se achem mais capazes de dizer o que é e o que não é doença do que a Organização Mundial de Saúde e o Conselho Federal de Psicologia? Mas a pior parte não é essa - esta, eu coloquei no começo do texto.


Em um flagrante de descaso com a separação de poderes ou com a democracia, o pastor-deputado apelou para uma coisa simples: a chantagem. Após uma audiência pública a respeito da lei, Feliciano fez a ameaça que abre este post - de uma rebelião por parte dos 80 deputados da bancada evangélica, caso o governo tente impedir de qualquer maneira a aprovação da lei. A tentativa de intimidação se dirigia especificamente a ministra dos direitos humanos, Maria do Rosário - Feliciano recomendou “juízo para a dona ministra” que “mexe onde não devia”.

Enquanto o país passa por um período de instabilidade frente a massa de protestos que correm desde a semana passada, joga essa ameaça mal velada de obstrução do legislativo para garantir que a sua agenda seja cumprida. E com isso propõe desestabilizar ainda mais o país. Não me surpreenderia, frente a cooptação dos protestos pela direita, que a bancada evangélica tente alegar que a pauta dos milhares marchando pelas ruas de todo o país seja "o casamento tradicional" e "a cura gay" - ou que digam que é para barrar a PLC 122.

A torpe ameaça da "revolta evangélica" traz a tona uma velha ameaça à nossa tão combalida democracia: que esta dê lugar à uma ditadura teocrática, frente ao avanço progressivo do conservadorismo evangélico, e a obsessão de segmentos deste credo por controlar as vidas alheias. 

E vale lembrar que homossexualidade não é doença - a OMS não reconhece mais a orientação sexual como patologia desde 1990. Como então pretendem os nossos paleo-conservadores "cura-lá"? Sua base dentro da psicologia se resumem à curitibana Marisa Lobo - que sequer possuí um curriculum Lattes, à data do fechamento deste texto - e o pastor Silas Malafaia - também sem Lattes. 

Enquanto isso,  estudo após estudo demonstra como as terapias de "reorientação sexual" não surtem efeito. Movido à dogmas e ignorância, o congresso nacional tenta legalizar um tratamento sem sentido, que é incapaz de surtir efeito, e para isso tenta atropelar sua autoridade para derrubar uma determinação do Conselho Federal de Psicologia.  

E só para fechar... as sandices de Feliciano agora viraram notícia internacional - sem dúvida graças ao interesse global no país após a onda de protestos combinada com a Copa das Confederações. Meus parabéns, você nos pôs no site da Salon.

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