Mas nada disso me parece tão representativo quanto os comentários do vereador Paulo Telhada (PSDB): após o confronto entre policiais e manifestantes que terminou com mais de 200 presos, sete jornalistas da Folha de São Paulo feridos, prisões por "posse de vinagre", e transeuntes atingidos por granadas de gás... Telhada criticou a atuação da imprensa. "O Brasil está a beira do caos e ninguém se apercebe", afirma o ex-coronel da Rota - o Bope de São Paulo, infame pelo número de "trocas de tiro a queima roupa" que já cometeu, vide o livro Rota 66 - e completa: "Tem dias que tenho vergonha da nossa sociedade".
Isso é digno de vergonha. Fonte: Diego Zanchetta, Estadão |
Pela defesa de objetos inanimados, estamos defendendo a violência contra pessoas. É isso que queremos para o Brasil? |
Tenho vergonha, coronel Telhada: vergonha de dividir minha espécie com pessoas como o senhor, que vêm com gosto o absurdo que foi visto ontem. Que em toda a crítica que seu cérebro conseguiu elaborar, não percebeu em ponto algum que a atuação da PM era condenável. Tenho vergonha de um país onde se cogita que se enquadrem movimentos sociais no crime de formação de quadrilha, quando não se sugere tratá-los como terroristas: tenho vergonha de cada coisa que você e os cães de guarda de um estado corrupto vem com orgulho.
Mas nem tudo no aftermath de mais uma noite de conflitos (certamente não a última) foi ruim: apesar de mais de 230 presos, cerca de 100 feridos - embora a PM, em um flagrante de falsidade, alegue que foram apenas 12, todos policiais - (e até agora felizmente nenhum morto que se saiba), as opiniões começam a mudar. Após os seus jornalistas sentirem na pele a violência da polícia, Folha de São Paulo e Estadão ao menos se posicionaram contra a violência - ao invés de sutilmente clamar por ela como fizeram na terça-feira. E mesmo sem o apoio do Ministro da Justiça, que só fez criticas aos manifestantes, agora tem-se o apoio da ministra de relações institucionais, Ideli Salvatti, que está cobrando a desoneração dos transportes coletivos em todo o país. Algo de bom tinha que vir da luta.
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