segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Estadão sofre ameaça de bomba. E agora?

Anos antes, na ditadura, o jornal foi alvo de uma bomba:
poderia a história se repetir?
Nesta segunda-feira, por volta das 16h, a sede do Jornal Estado de São Paulo foi evacuada após uma ameaça de bomba, feita pelo telefone O motivo da ameaça não foi esclarecido. Mas independente do que seja, e de quem sejam os autores, um ocorrido destes é preocupante. Assim como é preocupante que se trate de um assunto desses com leviandade e trivialidade.

Um risco de bomba na sede de um dos maiores jornais do país não é algo trivial. Como trote, é um trote não apenas sem graça, mas irresponsável.  Se a declaração foi sincera (ou tinha a intenção de realmente intimidar os jornalistas), no entanto, é um possível sinal de que a radicalização política (independente de lado) no Brasil já não tem mais vergonha - o que deveria ter se tornado claro quando jogaram uma bomba na sede do Instituto Lula. Também pode ser sinal de um ex-funcionário descarregando frustração de forma doentia, ou alguém com um senso de humor muito pervertido.

Independente da causa, no entanto, é lamentável e absurdo que um jornal seja alvo de ameaças de bomba em um país que se diz democrático, e que essas mesmas intimidações sirvam de base para acusações e piadinhas.  Não importa se você apoia ou não as posições político-ideológicas do Estadão: não é assim que se lida com uma discordância discursiva.

Há de se lembrar que durante a ditadura, o Estadão - notório por substituir matérias censuradas por receitas de bolo e outras trivialidades - foi alvo de um atentado à bomba, em 16 de novembro de 1983. O objetivo do atentado, armado pelo ex delegado do DOPS, Cláudio Guerra, era incriminar e desmoralizar a esquerda.

Piadinhas e acusações marcam os comentários.
A hostilidade contra a imprensa tem se tornado uma coisa cada vez mais comum, como demonstram os casos de agressões verbais contra repórteres em manifestações. Este não é um problema nacional: há casos de violência verbal e física contra repórteres em protestos nos EUA, no México e em grande parte da União Européia. Discordância quanto ao foco, tom ou conteúdo da cobertura vira motivo para agressividade, e mês passado, um repórter do Buzzfeed foi fisicamente agredido em um protesto da Jewish Defense League, por “ter dado uma cobertura demasiadamente pró palestina”.

Tampouco se restringe a casos tão “leves”: segundo o Comitê para a proteção de Jornalistas, a violência contra profissionais da imprensa tem crescido consideravelmente nos últimos 12 anos. E o Brasil ocupa uma posição nada agradável no ranking, com 4 jornalistas mortos pelo DOPS em função de seu trabalho em 2015.

Ao menos o incidente do Estadão se resumiu a um susto, no fim das contas. Se havia ou não uma bomba não foi divulgado até o fechamento deste texto. Esperemos que isso não sirva de inspiração para outros “revoltados” e outros “engraçadinhos”. A última coisa que o Brasil precisa é de atentados em jornais.

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