Fonte: Reuters |
O perene conflito entre os militantes fundamentalistas do Taliban e o governo paquistanês pode estar próximo do fim. Após vários adiamentos, desentendimentos e dúvidas crescentes, as negociações de paz com o grupo militante islâmico finalmente começaram nesta quinta feira. A pergunta que fica é... e agora?
A insurgência dos Talibans contra o governo paquistanês tem levado a conflitos violentos desde 1994; visando derrubar o governo democrático - porém islâmico, e que ainda tem absurdos como penas capitais por "Blasfêmia" - do Paquistão para instalar uma teocracia em seu lugar. Tentativas anteriores de diálogo foram legadas ao fracasso quando os milicianos usaram da trégua para reforçar a guerrilha e recuperar forças. Desta vez, afirma o governo paquistanês, as coisas parecem diferentes - mas será que são?
É difícil acreditar na sinceridade de conversas de paz quando estas vêm de um grupo que tem realizado atentados quase diários no país. Para Bilawal Bhutto Zardari, filho da ex-primeira ministra Benazir Bhutto - assassinada em um atentado da Al Qaeda em 2007 - o governo de Nawaz Sharif sofre de "síndrome de Estocolmo", e "precisa parar de dar desculpas para não usar de força militar contra o Taliban".
Ao mesmo tempo em que discute a paz com o Taliban, no entanto, os dois lados do conflito tem escalado as agressões. Enquanto o Taliban realizou vários atentados contra forças de segurança desde o início do ano, o governo Paquistanês enviou a força aérea para bombardear esconderijos dos extremistas na região do Waziristão do Norte, próximo a fronteira com o Afeganistão - e rumores de uma ofensiva por terra tem circulado pelo governo, segundo a Reuters.
A tira é sobre o Yemen, mas se aplica igualmente ao Paquistão. |
Esse não é um problema que possa ser resolvido facilmente. Mesmo que as conversas de paz sejam bem sucedidas, ainda há o problema da militância Taliban não ser formalmente estruturada - ou seja: enquanto as lideranças envolvidas no diálogo possam ser convencidas a cessar a violência, outros líderes podem se erguer em seu lugar, ou outros movimentos podem desmembrar-se do Taliban paquistanês. Da mesma maneira, não se pode recorrer apenas ao diálogo frente a atentados e ataques suicidas.
Ao mesmo tempo, não é a violência que vá cessar a atividade dos talibans; embora a resposta mais simplória diga que a raiz do problema é "o Islã", como se fosse algo monolítico e tão simples, o problema é mais embaixo. Tentar resolver o problema através da repressão e da violência só vai levar os talibans a se sentirem justificados em seus atos - e aqueles que não tomaram um lado, frente ao conflito, podem pender para o lado do Taliban, ao ver a violência ser institucionalizada. Ainda mais onde a única presença do Estado se dá na forma das forças armadas, de bombardeios e ataques de artilharia - onde a segurança e a "justiça" são dadas pelos milicianos extremistas do Taliban, e o governo paquistanês parece inexistir - marcas clássicas de um estado fragilizado.
Radicalismo não nasce do nada; como demonstrado com grupos radicais políticos, ideológicos ou de gênero, o fanatismo é um processo complicado, que advém de uma sensação de exclusão e não representação no todo; No quadro islâmico, esse processo frequentemente nasce de um conflito com os desafios apresentados pela modernidade e o abandono da tradição; enquanto alguns países se viram para o secularismo como solução - vide Turquia até tempos recentes - ou para o tradicionalismo, como a Arábia Saudita, em outros casos. No caso da região do Afeganistão e do norte Paquistanês, a sensação de alienação social levou a formação de grupos fundamentalistas; Não contentes em se virar para a tradição, buscam retornar a um passado ideal onde "a moral e os bons costumes" eram primordiais - e isso é difícil de se combater, especialmente a força.
Cenas como essa podem estar perto do fim - ou podem se tornar ainda mais comuns. |
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