Wall Street pronta a queimar mais uma vez? Fonte: about.com |
Pela legislação vigente, acionistas precisam deixar uma soma considerável como colateral para cobrir as perdas derivativas, dinheiro que muitos prefeririam investir em outros negócios. Para evitar essas despesas, algumas bolsas tem movido alguns dos derivativos chamados de "Swaps" (trocas) para "Futuros" - mercado submisso a menos leis, dispendendo de menos colateral, assim podendo fazer apostas maiores na especulação, investindo somas maiores e aumentando os lucros - assim como os riscos, e perdendo qualquer noção de transparência. Hoje, o mercado de trocas movimenta US$ 639 trilhões, dez vezes a economia mundial. Em nome dessa fortuna considerável - equivalente a 257,6 vezes o PIB Brasileiro - nos vemos novamente frente ao risco de especulações e bolhas de mercado
O que ocorre com a futurização das trocas? Dentro do mercado de futuros, cabe apenas as corretoras decidir que operações serão privadas e quais podem ser expostas ao público - sem qualquer regulamentação. Além disso, graças a exigência de capital colateral reduzido e o incentivo a apostas maiores, o potencial para um investimento fracassar sem que a parte investidora possa cobrir as perdas é exponencialmente maior. Além disso, o mercado de futuros não envolve monitoramento por parte de agências reguladoras.
Não apenas isso: Conforme o colunista de economia do Huffington Post, Elezar David Melendez, enquanto as perdas no mercado de trocas sob a lei Dodd-Frank se restringem as partes envolvidas, no mercado de futuros essas perdas tendem a se espalhar, podendo atingir as corretoras que gerenciaram a transação, assim como os bancos que executaram o capital - ou seja, quando houver uma aposta falha neste mercado que é dez vezes maior que a economia mundial, a tendência é impactar todo mundo.
Como ressalta o diretor de trocas da Bloomberg LP, George Harrington: "um regime que favorece futuros financeiros sobre trocas financeiras corre o risco de aumentar riscos sistêmicos". Segundo o que CEO da Javelin Capital Markets, James Cawley, disse ao Huffington Post "Conforme o mercado gravita para a plataforma mais barata - e é mais barata porque é menos segura - isso cria riscos para todos". Cawley tem alertado o mercado financeiro a cessar com a futurização das trocas de riscos. Quando o empresariado do setor de ações parece alertar "parem com isso", é sinal de algo errado, mas outras partes do mercado tem ignorado o alerta.
E o dinheiro segue ralo abaixo |
Mas ao mesmo tempo em que mais de uma duzia de oradores alertaram a Commodities Futures Trading Commission sobre a maneira como investidores estavam se aproveitando do mercado de futuros para negociar trocas sem ter que aderir aos requisitos deste mercado, empresas como a IntercontinentalExchange defendem a mudança como uma "evolução natural" do mercado. Sob a máxima neoliberal de que a mão invisível do mercado se auto-regula, grupos como a Intercontinental e a Chicago Markets Exchange tem provado que, deixados a seus próprios recursos, os agentes de mercado farão o possível para destruir a regulamentação.
Não que a IntercontinentalExchange não tenha seus motivos para defender a futurização das trocas: os receios quanto a especulação no mercado de futuros já deram algum resultado em outubro, quando foram impostas novas regras quanto as trocas nos derivativos de energia - um mercado de US$ 18 trilhões diários - e no dia seguinte a empresa estabeleceu um pacote de produtos para migrar as transações de trocas para futuros. Claramente visando burlar as regulamentações, a medida já afetou metade do volume financeiro envolvido no setor.
Mas esses impactos negativos não devem se restringir aos EUA: graças ao atual mercado globalizado, no momento em que a bolha dos futuros estourar - e ela vai estourar, da mesma maneira que a "segura" especulação imobiliária de 2006 e 2007 implodiu levando o mercado mundial junto com ela - outros mercados seguirão. Em nome de lucros mais rápidos e maiores, em um nível em que ditos lucros se tornaram apenas números a mais, sem qualquer valor real, acionistas se dispõe a por o mundo em risco outra vez.
Devemos confiar em um mercado que se auto destruiu e agora repete o mesmo erro? Fonte: Newsday |
Para muitos analistas, essas medidas tem servido apenas para aumentar os riscos de colapso do setor. Segundo Dan Maguire, diretor da LCH.Clearnet, o risco pode até mudar, mas nunca desaparecer. "Você 'enfiar' trocas em um mercado de futuros, é provável que deixe algum stress com consequências imprevistas", afirmou. Não a toa: sem garantia e sem transparência, essa é uma porta aberta para apostas desastradas, e como o sistema é "grande demais para falhar", governos serão obrigados a salvar as corretoras e os bancos de sua própria ganância.
E é claro, como de costume, quando o colapso vier, a culpa será do Estado, do excesso de regulamentação, dos impostos exagerados e da "falta de liberdade financeira", da mesma maneira que ocorreu em 2007. O mundo deixou o mercado "se auto regular" durante os anos Bush, e quando a liberdade irrestrita falhou, o mesmo mercado - após choramingar e implorar para o malvado Estado que este o salvasse - agora pede por ainda menos regulamentação, para lhe salvar do desastre que ele mesmo engendrou.
Porque será que o povo não te ama, Wall Street? Nem imagino o por que... Fonte: caglecartoons. |
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