quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Outra crise a caminho, muito obrigado Wall Street

Wall Street pronta a queimar mais uma vez?

Fonte: about.com
Em nome de uma maior lucratividade, o mercado de ações se dispõe a tirar todas as seguranças...e  pode estar prejudicando a todos. Depois do desastre financeiro de 2007, Wall Street passou por uma série de regulações para evitar que as especulações desenfreadas levassem a um novo colapso financeiro - mas tudo isso pode ter sido por nada, em vista das tentativas de corretores de ações de contornar as reformas da lei Dodd-Frank, aprovada em 2010.

Pela legislação vigente, acionistas precisam deixar uma soma considerável como colateral para cobrir as perdas derivativas, dinheiro que muitos prefeririam investir em outros negócios. Para evitar essas despesas, algumas bolsas tem movido alguns dos derivativos chamados de "Swaps" (trocas) para "Futuros" - mercado submisso a menos leis, dispendendo de menos colateral, assim podendo fazer apostas maiores na especulação, investindo somas maiores e aumentando os lucros - assim como os riscos, e perdendo qualquer noção de transparência.  Hoje, o mercado de trocas movimenta US$ 639 trilhões, dez vezes a economia mundial. Em nome dessa fortuna considerável - equivalente a 257,6 vezes o PIB Brasileiro - nos vemos novamente frente ao risco de especulações e bolhas de mercado


O que ocorre com a futurização das trocas? Dentro do mercado de futuros, cabe apenas as corretoras decidir que operações serão privadas e quais podem ser expostas ao público - sem qualquer regulamentação. Além disso, graças a exigência de capital colateral reduzido e o incentivo a apostas maiores, o potencial para um investimento fracassar sem que a parte investidora possa cobrir as perdas é exponencialmente maior. Além disso, o mercado de futuros não envolve monitoramento por parte de agências reguladoras.

Não apenas isso: Conforme o colunista de economia do Huffington Post, Elezar David Melendez, enquanto as perdas no mercado de trocas sob a lei Dodd-Frank se restringem as partes envolvidas, no mercado de futuros essas perdas tendem a se espalhar, podendo atingir as corretoras que gerenciaram a transação, assim como os bancos que executaram o capital - ou seja, quando houver uma aposta falha neste mercado que é dez vezes maior que a economia mundial, a tendência é impactar todo mundo.

Como ressalta o diretor de trocas da Bloomberg LP, George Harrington: "um regime que favorece futuros financeiros sobre trocas financeiras corre o risco de aumentar riscos sistêmicos". Segundo o que CEO da Javelin Capital Markets, James Cawley, disse ao Huffington Post "Conforme o mercado gravita para a plataforma mais barata - e é mais barata porque é menos segura - isso cria riscos para todos". Cawley tem alertado o mercado financeiro a cessar com a futurização das trocas de riscos. Quando o empresariado do setor de ações parece alertar "parem com isso", é sinal de algo errado, mas outras partes do mercado tem ignorado o alerta.

E o dinheiro segue ralo abaixo
Conforme o empresário, essa dinâmica de mercado pode criar um novo padrão de finanças que pode ficar "grande demais para falhar", como ocorreu com a gigante dos seguros AIG - que resultou em uma despesa de US$ 134 bilhões para os cofres públicos dos EUA quando a seguradora quase faliu devido as perdas em trocas de crédito. Ou seja: Wall Street se joga no buraco, e o povo americano paga. E conforme a economia americana quebra, outras seguem.

Mas ao mesmo tempo em que mais de uma duzia de oradores alertaram a Commodities Futures Trading Commission sobre a maneira como investidores estavam se aproveitando do mercado de futuros para negociar trocas sem ter que aderir aos requisitos deste mercado, empresas como a IntercontinentalExchange defendem a mudança como uma "evolução natural" do mercado. Sob a máxima neoliberal de que a mão invisível do mercado se auto-regula, grupos como a Intercontinental e a Chicago Markets Exchange tem provado que, deixados a seus próprios recursos, os agentes de mercado farão o possível para destruir a regulamentação.

Não que a IntercontinentalExchange não tenha seus motivos para defender a futurização das trocas: os receios quanto a especulação no mercado de futuros já deram algum resultado em outubro, quando foram impostas novas regras quanto as trocas nos derivativos de energia - um mercado de US$ 18 trilhões diários - e no dia seguinte a empresa estabeleceu um pacote de produtos para migrar as transações de trocas para futuros. Claramente visando burlar as regulamentações, a medida já afetou metade do volume financeiro envolvido no setor.

Mas esses impactos negativos não devem se restringir aos EUA: graças ao atual mercado globalizado, no momento em que a bolha dos futuros estourar - e ela vai estourar, da mesma maneira que a "segura" especulação imobiliária de 2006 e 2007 implodiu levando o mercado mundial junto com ela - outros mercados seguirão. Em nome de lucros mais rápidos e maiores, em um nível em que ditos lucros se tornaram apenas números a mais, sem qualquer valor real, acionistas se dispõe a por o mundo em risco outra vez.

Devemos confiar em um mercado que se auto
destruiu e agora repete o mesmo erro?
Fonte: Newsday
As medidas da IntercontinentalExchange tendem apenas a se alastrar, a vista das intenções do grupo CME, proprietário da empresa, de adquirir a Bolsa de Valores de Nova York - e assim controlar toda as transações de futuros dos EUA. Com isso, a tendência é que as medidas da lei Dodd-Frank se tornem totalmente inócuas, sem qualquer impacto real nos riscos. E com a popularização desse mercado na potência, as bolsas globais devem seguir. Na correnteza, se vão as economias de potencias emergentes, e mais uma vez a economia mundial se esvai. Podemos estar perto de repetir o crash dos anos 20, e as bolsas de valores pedem por mais chances de estragar tudo.

Para muitos analistas, essas medidas tem servido apenas para aumentar os riscos de colapso do setor. Segundo Dan Maguire, diretor da LCH.Clearnet, o risco pode até mudar, mas nunca desaparecer. "Você 'enfiar' trocas em um mercado de futuros, é provável que deixe algum stress com consequências imprevistas", afirmou. Não a toa: sem garantia e sem transparência, essa é uma porta aberta para apostas desastradas, e como o sistema é "grande demais para falhar", governos serão obrigados a salvar as corretoras e os bancos de sua própria ganância.

E é claro, como de costume, quando o colapso vier, a culpa será do Estado, do excesso de regulamentação, dos impostos exagerados e da "falta de liberdade financeira", da mesma maneira que ocorreu em 2007. O mundo deixou o mercado "se auto regular" durante os anos Bush, e quando a liberdade irrestrita falhou, o mesmo mercado - após choramingar e implorar para o malvado Estado que este o salvasse - agora pede por ainda menos regulamentação, para lhe salvar do desastre que ele mesmo engendrou.

Porque será que o povo não te ama, Wall Street?
Nem imagino o por que...
Fonte: caglecartoons.
Como afirmou o ancora do The Young Turks, Cenk Uygur, estamos diante do Armagedom Financeiro - e como sempre, Wall Street e os bancos vão tirar os seus da reta quando a bomba estourar. Ou melhor... ao final de tudo, se darão um belo e gordo bônus, indo a público dizer como salvaram a economia do fiasco do controle estatal - e não serão pouco que vão engolir. Vide quantas pessoas ainda acham que o movimento Occupy Wall Street não passa de jovens sem causa. Esperemos pelo melhor, mantenhamos a vigilância... e estejamos prontos a agir quando a casa cair - porque se nada mudar, ela vai cair.

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