quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Blair, Iraque, e o nascimento do Estado Islâmico




Demorou, mas aconteceu: na semana passada, o ex-Primeiro Ministro britânico Tony Blair reconheceu algo que cientistas políticos diziam há anos. Em entrevista a CNN no último domingo, Blair pediu desculpas pelos erros cometidos na Guerra do Iraque, notando que sem ela o atual problema do Estado Islâmico não existiria.

O político trabalhista Inglês disse não se arrepender de ter removido Saddam Hussein do poder (com razão: o regime de Hussein era um dos mais violentos da região), mas sim dos motivos e resultados da guerra. Baseada em inteligência errônea, a Guerra do Iraque se estendeu por quase nove anos e deixou entre 100 mil e 600 mil mortos. Foi o palco de inovações na arte da guerra e no controle de informações, e no uso de “combatentes aliados”.

Porém, a questão central não é se erraram ou acertaram na invasão, e sim o custo desta para o futuro. Sem um projeto para o futuro do país, as forças da coalizão entraram no Iraque com a ilusão de que derrubado o tirano, a democracia reinaria. No entanto, a realidade foi muito diferente do planejado: com a queda de Saddam,o caos se apoderou do País. E em sequência, o radicalismo ganhou força, dando força a células regionais da Al Qaeda.


Desse caos e do vácuo de poder, as milícias treinadas contra o ditador do partido Baath, os comandantes do antigo regime e “senhores da guerra” regionais se engalfinharam pelo controle. Essa massa de serpentes foi chocada pela mobilização resultante da “Primavera Árabe”. Desses combatentes, deslocados para a Síria visando a queda de Bassar Al Assad, surgiu algo novo, coalescido sob o discurso messiânico de Abu Bakr Al Baghdadi: o Estado Islâmico.

É incontestável que Saddam precisava ser derrubado, e que o Iraque se beneficiou da sua queda. No entanto, os resultados da Guerra do Iraque, reconhecidos por Tony Blair, demonstram a importância de um projeto para o pós guerra, como forma de evitar uma infestação de déspotas e tiranetes.

Agora, dois anos adentro da crise com o Estado Islâmico, a Rússia se envolve diretamente no conflito com o mesmo ímpeto que as forças aliadas fizeram contra Saddam em 2003. Ao mesmo tempo, temerosos de repetir o desastre que foi a intervenção na Líbia, as potências ocidentais armam milicias para combater os extremistas. Termos os mesmos erros outra vez?

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