sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O Hímen e a hipocrisia masculina

Sim, essa mentalidade voltou. 
Precisamos falar sobre hipocrisia. Em particular, sobre hipocrisia masculina. De uns dias para cá, grupos de “ativistas dos direitos do homem” retomaram um dos padrões mais machistas para “avaliar o valor de uma mulher”: se ela é virgem ou não. A alegação é de que isso valoriza “a pureza”, mas que pureza é esta?

Não é cobrada dos rapazes esta mesma pureza, muito do contrário: dos garotos é esperado que tenham o máximo possível de “experiência” sexual no mínimo possível de tempo. É um completo paradoxo: os rapazes tem que ser “experientes” e “pegadores”, mas as garotas inocentes, puras e intocadas. E aquelas que satisfazem a vontade desses rapazes? “vagabundas”, “vadias” e outros termos piores.

O culto à virgindade exposto em um texto medievalesco do Diário de Santa Maria, que trata a “donzela virgem” como mercadoria a ser devolvida “se o lacre estiver violado” é um reflexo do machismo que tantos insistem não existir. É uma forma de controlar o corpo e a vida de mulheres e atrelar o seu valor a um ato apenas. Ou a uma membrana de tecido (que os mesmos que a supervalorizam não entendem como funciona).

Eis uma verdade sobre o Hímen: ele não deveria romper, e em grande parte dos casos, ele não rompe. A tradição tola de “averiguar a virgindade” pelo sangramento na primeira vez nada mais é do que um mecanismo de controle e uma desculpa para não respeitar os limites da mulher. Afinal, se “a primeira vez sangra e dói” de qualquer jeito, não há porque se preocupar em fazer com que não seja sofrida.



A parabola machista.
Um velho meme serve de exemplo perfeito desse double standard hipócrita. A imagem (ao lado) compara o homem com uma chave, e a mulher com uma fechadura, insinuando que o homem “pegador” tem mais valor por “abrir mais portas”, enquanto a mulher “oferecida” é inútil pois “abre com qualquer chave”. Mas pessoas não são chaves e trancas, e seu valor não se dá por sua sexualidade.

Não vou me atrever a dizer sobre como as mulheres devem agir quanto a sua sexualidade, salvo dizer que, se o cara te valoriza só por sua “pureza”, ele é um idiota. Mas quanto aos homens, tenho muito a dizer. E pouco de bom.

Criamos padrões impossíveis de serem alcançados, e um senso de “eu mereço isso” que beira o infantil. Não são poucos que desejam uma mulher que seja “uma santa na rua e uma atriz pornô na cama” (e ignoram que a maneira que sexo é retratado em pornografia não condiz com a realidade). Seja o que for o resultado das investidas (indesejadas, muitas vezes), a parte errada nos olhos de muitos rapazes e homens “maduros” é a mulher. Ela aceitou? É uma vadia. Disse não? Frígida. Roupa curta? piriguete. Recatada? “Deve ser uma louca na cama”, é uma fingida. Foi abusada? “Tava pedindo”.

Friendzone: a terra dos "caras legais" que chamam as "amigas"
de vadias quando elas querem ser só amigas. 
Isso quando não se perpetua o mito ridículo da “Friendzone” (o qual admito, já propaguei, já fui um desses idiotas). A ideia absurda de que amizade é uma punição, e de que falsas gentilezas (sim, falsas: se você só é gentil com alguém porque quer entrar nas calças dela, não é gentileza, desculpe me informar) deva ser retribuída em favores sexuais. Se a única coisa para qual você dá valor em uma relação é a possibilidade de “levar ela pra cama”, sinto muito, mas isso não é amizade. E você é um canalha por fingir que valoriza a amizade.

Por tempo demais mulheres tem sido avaliadas por nós homens com base apenas em seu valor sexual e uma noção hipócrita de pureza que as vê como uma conquista (Sim, conquista: a ideia de “moça pura” ´vem da noção de “eu conquistei ela antes de todos”). Isso afeta todas as esferas da sociedade, e o eterno moinho de rumores tranquilamente associa o sucesso de uma mulher a “favores sexuais” ou a sua aparência. O mito da friendzone, tão disseminado entre os millenials demonstra isso ainda mais: a amizade com uma mulher não tem valor sem sexo, e isso é grotescamente errado.

Eis o que tenho a disser para vocês: parem de pensar em mulheres como genitais para serem conquistados. E parem de pensar que elas não tem valor se “já foram tomadas”. A coisa é simples: mulheres são pessoas, deveria ser óbvio. Mas tem gente que tem dificuldade em entender isso. E depois reclamam das “feminazis” (uma comparação que por si só já é um absurdo). É bem simples: deixem de ser idiotas. E ouçam o que as mulheres tem a dizer sobre o seu comportamento.

E uma recomendação de leitura, que demonstra o quão grave é o impacto dessa (e de outras) forma de slut-shaming: I Am not a Slut: Slut-shaming in the Age of the Internet

2 comentários:

  1. Se tivessem mais homens como você no mundo, provavelmente estariamos em um mundo melhor. E por falar nisso voce poderia seguir o meu blog? Www.supernaturalworld777.blogspot.com

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  2. E realmente, existe muitos homens que querem uma mulher virgem e top model sendo que hipocritamente nao olham para o proprio umbingo.

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