terça-feira, 15 de abril de 2014

Tolerância religiosa I: o centro comunitário islâmico.

Espaço comunitário está para ser demolido. 
Park 51, o infame centro comunitário islâmico em Nova York erroneamente conhecido como a "Mesquita do Ground Zero" - abrigado em um prédio comercial à dois quarteirões de distância do antigo World Trade Center - está para ser demolido: na semana passada, o departamento de edificações da Prefeitura de Nova York confirmou estar avaliando uma aplicação para a demolição do edifício de quatro andares, junto com um prédio adjacente, para a construção de um edifício maior no local, segundo a Agência Reuters.

A demolição pode ser uma preparação para a construção definitiva do centro comunitário; em 2011, Sharif El-Gamal, da Soho Properties, havia expressado planos para inaugurar um complexo de 13 andares, com espaços para oração, recreação e oficinas inter-religiosas. No entanto, um porta voz da companhia não confirmou à agência se a demolição era um passo para o projeto maior. 

O projeto, orçado em US$ 100 milhões, assim como a mera existência do centro comunitário, fora recebido com protestos e alegações de que construir "uma mesquita em cima do World Trade Center" seria "um desrespeito às vítimas de 11/9". Correram também acusações de que o espaço seria na verdade "um centro de recrutamento para terroristas", uma "Mecca para o fundamentalismo" (ao invés da Mecca de fato) e "equivalente a um monumento a Hitler em Auschwitz". 

À época, em 2010, a polêmica levou a um retrocesso nas relações inter-religiosas nos EUA: pesquisas revelaram que para 14% dos americanos - um em cada sete - mantinham a opinião de que mesquitas deveriam ser proibidas no país, enquanto 34% - um terço - achavam que havia lugares que deveriam ser abertos para todas as religiões, exceto a islâmica. Para o ex-congressista republicano Newt Gingrich, a questão não tratava de "liberdades religiosas", pois o Islã não era "uma religião, e sim 'uma ideologia assassina'". 

No entanto, a demolição dos edifícios pode ser o fim do centro comunitário: segundo o Daily Beast, o projeto de expansão não é a realização da Cordoba House (o projeto para o centro comunitário), mas sim para projetos comerciais - a falta de apoio da comunidade e o desvio de dinheiro de um dos principais apoiadores financeiros da proposta parecem ter soterrado o "sonho". O destino do centro após a demolição é uma incógnita. 

As reações violentas à época da fundação do Centro e a indiferença agora são indícios que os EUA estão começando a superar o ódio que veio a tona após os ataques de 11/9 de 2001. No entanto, essa superação ainda é lenta, e fanáticos parecem empenhados em aumentar a intolerância: em 2012, republicanos levantaram teorias conspiratórias contra a assessora de Hillary Clinton, Huma Abedin; Em julho do ano passado, a Fox News realizou uma entrevista vergonhosa com o historiador Reza Aslan e em março desse ano, o congressista republicano Louie Gohmert alegou que a casa branca estaria "tomada pela irmandade muçulmana", e comentaristas da Fox News perguntaram se "alguém se deu o trabalho de pesquisar se aviam muçulmanos no avião da Malaysia Airlines". Esses casos são grãos de areia em um oceano de ódio. Até hoje - e não só nos EUA - para muitos "terrorista" e "muçulmano" são sinônimos, o termo terrorista raramente é usado para se referir a agressores não islâmicos. 

No geral, a situação é lastimável - como proposto, o espaço serviria como um instrumento importante para combater a intolerância religiosa, e moldar um futuro mais tolerante. No entanto, serviu de raiz para ódio e fanatismo - e não por parte dos islâmicos.  



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