quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sem partido, sem ideologia, sem honestidade


Como eu falei anteriormente, bastou as manifestações do Movimento Passe Livre obterem o apoio da grande mídia para termos uma ameaça maior do que a repressão: a cooptação da mobilização por uma direita que até semana passada achava que aquilo era "coisa de vagabundo". No meio de um movimento tradicionalmente ligado a esquerda, surgiam vozes pedindo o fim "do esquerdismo" e do "comunismo".

O pedido por um golpe do judiciário...
Isso junto com pleitos que só podiam ser frutos de pouca instrução política - do tipo que leva alguém a achar que Dilma é responsável pelas decisões dos governos municipais, que deputado, vereador e senador fazem obras, e que super faturamento é um problema que se resume aos políticos, quando o agente ativo destas são também as empreiteiras e prestadoras de serviço. Não adianta exigir maior punição de políticos corruptos se estes continuarão servindo de laranjas e bodes expiatórios para empresários intocáveis e nada será feito com os lobistas de empresas que compram políticos e fiscais. Também se esquecem que esses problemas não são só do Brasil, ou só do governo PTista.

Ei, você, que deseja mudar o Brasil....

Você sabe como funciona o sistema político brasileiro?
Você sabe o que é uma PEC?
Você sabe o que faz um deputado? E o que faz um vereador?
Você sabe quais são os direitos e os deveres do cidadão?
Você sabe como são estruturados os três poderes no país? 
Você sabe quais pontos estão sendo discutidos para uma reforma política?
Você sabe o que é PPA, LOA, LDO?
NÃO! Então aproveita!!!! Use sua energia e sua raiva contra o sistema atual e mude ele, ou melhor, SEJA ELE. Todo cidadão tem que fazer política e eu não estou falando de partidos. As pessoas precisam entender que democracia não é ir às urnas a cada quatro anos e depois deixar que os eleitos façam tudo. Você tem responsabilidade, também!
O governo de São Paulo e a Prefeitura revogaram o aumento das tarifas. Mas como eles vão cobrir os custos, se antes diziam que não era possível. A população sabe como funciona as regras do transporte coletivo? Saber não é apenas um direito, é um dever!
Se o poder público paulista recuou diante das manifestações, significa que o povo pode decidir as coisas, quando ele quer. Mas nós temos que saber o que a gente quer. A corrupção está dentro da sociedade brasileira, o que acontece em Brasília é um mero reflexo.
Vamos pedir uma reforma política? Eles (os deputados) já estão discutindo isso. VAMOS SIM! Mas precisamos saber como funciona a política, para depois pedir uma reforma! - Giovanni Ramos 
 E na onda dessas pessoas sem compreensão de como funciona o cenário político - incapazes de entender sequer o motivo pelo qual Bertrand Russel ressalta em seu "Ideais Políticos" pelo qual direitos de minorias jamais deveriam ser decididos por via plebiscitária. Pelo contrário: propõem que todo o legislativo seja feito por "plebiscito online", jogando a já combalida geração de leis na mão de um povo mal instruído, e que demonstra constantemente ser incapaz de compreender o que a democracia significa - vide a insistência de que é "ditadura da maioria", ou a oposição ao casamento civil de pessoas do mesmo sexo por motivos religiosos.

Problema: a presidente não controla o legislativo. Não faz julgamentos.
Não controla os governos municipais. Não cria leis ou CPIs, e não aprova
leis. Ou seja: as demandas não tem a ver com o executivo, e a
presidente assinar isso não muda nada. 
Isso quando não entramos no tema do "movimento anti-corrupção" - sem definir direito contra o que está se lutando, e tomando como inimigo uma coisa tão mal vista e "genérica", não há como se ter resultados. Que político ou empresário vai responder a isso com qualquer coisa além de promessas vazias? Acham que alguém vai se dizer a favor da corrupção? Estão procurando uma cura para o vírus, ou para bactéria, ou para o câncer (que ainda é um pedido popular, embora câncer sejam várias doenças, e não uma).


Ainda vivemos em uma democracia incipiente, onde se pede ao vereador para que ele faça obras, ou traga mais gente pro postinho - quando cabe a este propor e votar leis. Da mesma maneira, culpamos o presidente, o chefe de estado, líder do executivo, quando o congresso (legislativo) propõe ou aprova uma lei que não nos agrada. Parece que como povo não caiu ainda a ficha do que cada esfera e cada poder faz, então culpamos o federal pelas falhas do municipal, e esperamos que o judiciário assuma o papel do legislativo (o que ele infelizmente as vezes de fato tem que fazer).

E em meio a tudo isso vêm uma ira descomunal contra os partidos e a política em si, por parte de gente que nunca tentou entender como ela funciona, ou o que é um partido. Simplesmente gritam que o movimento é apartidário (quando sempre fora ligado a esquerda), apolítico (quando era sobre políticas de mobilidade urbana) e sem ideologia (algo que é completamente impossível, pois todo discurso trás em si uma ideologia). E nesse furor "apartidário" - mas que traz as pautas dos partidos da direita - o que fazem? Alegando evitar "oportunismo", tentam expulsar os partidos que sempre estiveram ligados ao Movimento Passe Livre, quando não querem chutar para o escanteio o próprio MPL. E tentam proibir qualquer expressão partidária nos manifestos - chegando ao uso da violência para cortar a esquerda fora.

 

Mas agora querem fingir que os movimentos que sempre
estiveram lutando "querem se aproveitar do holofote".
Ao mesmo tempo, choramingam às criticas do seu sequestro do movimento alegando que "a esquerda quer ser dona do movimento" e "querem proibir a direita de se manifestar". Mas não foi a esquerda que produziu cartazes como os do final deste texto. Ninguém está proibindo a manifestação da direita - o problema é depois de historicamente hostilizarem o MPL, se aproveitarem dos holofotes para promover uma causa contrária. E substituir a causa original por um ufanismo vazio, quase digno dos tempos de "Brasil, ame-o ou deixe-o". 

Para por em termos simples: pensem que fizeram uma boa festa, e querem repetir. Aí seus vizinhos que só reclamaram aproveitam a organização para chamar os amigos deles, trocam o estilo musical, dizem que a festa "é de todo mundo" - mas ao mesmo tempo tentam te expulsar. Esse é o problema. Se queriam fazer protesto "pelo impeachment da Dilma", "contra a PEC 37", "Contra Renan Calheiros", pela volta dos militares, pelo casamento tradicional, por leis definidas por plebiscito online, por PS4 à mil reais, por mais investimentos na saúde, pela lei da ficha limpa, ou o quer que seja, seja nobre ou insana a causa... porque não o fizeram por conta própria? tinham que esperar o MPL estar na mídia para dizer que não, o MPL nada tinha a ver e fomos nós o tempo todo? Honestidade intelectual e politica é uma virtude. Não as desperdicem. 







Quem está tentando expulsar quem mesmo? 

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