![]() |
Sim, essa mentalidade voltou. |
Precisamos falar sobre hipocrisia. Em particular, sobre hipocrisia masculina. De uns dias para cá, grupos de “ativistas dos direitos do homem” retomaram um dos padrões mais machistas para “avaliar o valor de uma mulher”: se ela é virgem ou não. A alegação é de que isso valoriza “a pureza”, mas que pureza é esta?
Não é cobrada dos rapazes esta mesma pureza, muito do contrário: dos garotos é esperado que tenham o máximo possível de “experiência” sexual no mínimo possível de tempo. É um completo paradoxo: os rapazes tem que ser “experientes” e “pegadores”, mas as garotas inocentes, puras e intocadas. E aquelas que satisfazem a vontade desses rapazes? “vagabundas”, “vadias” e outros termos piores.
Não é cobrada dos rapazes esta mesma pureza, muito do contrário: dos garotos é esperado que tenham o máximo possível de “experiência” sexual no mínimo possível de tempo. É um completo paradoxo: os rapazes tem que ser “experientes” e “pegadores”, mas as garotas inocentes, puras e intocadas. E aquelas que satisfazem a vontade desses rapazes? “vagabundas”, “vadias” e outros termos piores.
O culto à virgindade exposto em um texto medievalesco do Diário de Santa Maria, que trata a “donzela virgem” como mercadoria a ser devolvida “se o lacre estiver violado” é um reflexo do machismo que tantos insistem não existir. É uma forma de controlar o corpo e a vida de mulheres e atrelar o seu valor a um ato apenas. Ou a uma membrana de tecido (que os mesmos que a supervalorizam não entendem como funciona).
Eis uma verdade sobre o Hímen: ele não deveria romper, e em grande parte dos casos, ele não rompe. A tradição tola de “averiguar a virgindade” pelo sangramento na primeira vez nada mais é do que um mecanismo de controle e uma desculpa para não respeitar os limites da mulher. Afinal, se “a primeira vez sangra e dói” de qualquer jeito, não há porque se preocupar em fazer com que não seja sofrida.
![]() |
A parabola machista. |
Um velho meme serve de exemplo perfeito desse double standard hipócrita. A imagem (ao lado) compara o homem com uma chave, e a mulher com uma fechadura, insinuando que o homem “pegador” tem mais valor por “abrir mais portas”, enquanto a mulher “oferecida” é inútil pois “abre com qualquer chave”. Mas pessoas não são chaves e trancas, e seu valor não se dá por sua sexualidade.
Não vou me atrever a dizer sobre como as mulheres devem agir quanto a sua sexualidade, salvo dizer que, se o cara te valoriza só por sua “pureza”, ele é um idiota. Mas quanto aos homens, tenho muito a dizer. E pouco de bom.
Criamos padrões impossíveis de serem alcançados, e um senso de “eu mereço isso” que beira o infantil. Não são poucos que desejam uma mulher que seja “uma santa na rua e uma atriz pornô na cama” (e ignoram que a maneira que sexo é retratado em pornografia não condiz com a realidade). Seja o que for o resultado das investidas (indesejadas, muitas vezes), a parte errada nos olhos de muitos rapazes e homens “maduros” é a mulher. Ela aceitou? É uma vadia. Disse não? Frígida. Roupa curta? piriguete. Recatada? “Deve ser uma louca na cama”, é uma fingida. Foi abusada? “Tava pedindo”.
![]() |
Friendzone: a terra dos "caras legais" que chamam as "amigas" de vadias quando elas querem ser só amigas. |
Isso quando não se perpetua o mito ridículo da “Friendzone” (o qual admito, já propaguei, já fui um desses idiotas). A ideia absurda de que amizade é uma punição, e de que falsas gentilezas (sim, falsas: se você só é gentil com alguém porque quer entrar nas calças dela, não é gentileza, desculpe me informar) deva ser retribuída em favores sexuais. Se a única coisa para qual você dá valor em uma relação é a possibilidade de “levar ela pra cama”, sinto muito, mas isso não é amizade. E você é um canalha por fingir que valoriza a amizade.
Por tempo demais mulheres tem sido avaliadas por nós homens com base apenas em seu valor sexual e uma noção hipócrita de pureza que as vê como uma conquista (Sim, conquista: a ideia de “moça pura” ´vem da noção de “eu conquistei ela antes de todos”). Isso afeta todas as esferas da sociedade, e o eterno moinho de rumores tranquilamente associa o sucesso de uma mulher a “favores sexuais” ou a sua aparência. O mito da friendzone, tão disseminado entre os millenials demonstra isso ainda mais: a amizade com uma mulher não tem valor sem sexo, e isso é grotescamente errado.
Eis o que tenho a disser para vocês: parem de pensar em mulheres como genitais para serem conquistados. E parem de pensar que elas não tem valor se “já foram tomadas”. A coisa é simples: mulheres são pessoas, deveria ser óbvio. Mas tem gente que tem dificuldade em entender isso. E depois reclamam das “feminazis” (uma comparação que por si só já é um absurdo). É bem simples: deixem de ser idiotas. E ouçam o que as mulheres tem a dizer sobre o seu comportamento.
Por tempo demais mulheres tem sido avaliadas por nós homens com base apenas em seu valor sexual e uma noção hipócrita de pureza que as vê como uma conquista (Sim, conquista: a ideia de “moça pura” ´vem da noção de “eu conquistei ela antes de todos”). Isso afeta todas as esferas da sociedade, e o eterno moinho de rumores tranquilamente associa o sucesso de uma mulher a “favores sexuais” ou a sua aparência. O mito da friendzone, tão disseminado entre os millenials demonstra isso ainda mais: a amizade com uma mulher não tem valor sem sexo, e isso é grotescamente errado.
Eis o que tenho a disser para vocês: parem de pensar em mulheres como genitais para serem conquistados. E parem de pensar que elas não tem valor se “já foram tomadas”. A coisa é simples: mulheres são pessoas, deveria ser óbvio. Mas tem gente que tem dificuldade em entender isso. E depois reclamam das “feminazis” (uma comparação que por si só já é um absurdo). É bem simples: deixem de ser idiotas. E ouçam o que as mulheres tem a dizer sobre o seu comportamento.
E uma recomendação de leitura, que demonstra o quão grave é o impacto dessa (e de outras) forma de slut-shaming: I Am not a Slut: Slut-shaming in the Age of the Internet