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Eis a imagem fraudulenta em questão. Vale notar o racismo implícito na imagem também associando negros ao estupro - e a recorrente associação de homossexualidade com pedofilia, quando mais de três quartos das vítimas são meninas, e 70% dos agressores são brancos. Fonte |
A tática rasteira já havia sido usada e abusada em março, quando o motivo do golpe baixo foi as críticas do parlamentar do PSOL à posse do pastor e deputado do PSC como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Na ocasião, páginas ligadas à membros da bancada evangélica atacaram com acusações que Wyllys havia "chamado os cristãos de palhaços", atacado a bíblia (o que eleva o tomo sacro para alguns ao posto de único livro imune à críticas) e "dito que o pedófilo era benéfico a criança, em entrevista a rádio CBN". Quase de imediato, as alegações foram desmentidas - mas o estrago estava feito: para os seguidores fiéis dos pastores-mercantes, Wyllys defendia a pedofilia, e os desmentidos "foram comprados".
"A CBN denuncia uma calúnia que vem circulando nas redes sociais contra a emissora. Trata-se de uma informação totalmente falsa sobre uma suposta entrevista do deputado federal Jean Wyllys na qual o parlamentar teria defendido a pedofilia. Tal declaração nunca foi feita na CBN."Outra vítima das mentiras políticas espalhadas pela internet, onde é mais do que fácil expor uma calúnia anonimamente e "dar o fora" antes que seja rastreado, foi a senadora petista Ana Rita (Espirito Santo): uma notícia falsa divulgada em maio alegava que a senadora havia proposto a criação de uma bolsa de R$ 2 mil mensais para prostitutas. Embora a assessoria de comunicação do Senado, do PT e da senadora tenham sido ágeis em desmentir a acusação, ainda existem aqueles convencidos da existência da "bolsa prostituta do PT".
“O mandato da senadora Ana Rita (PT-ES), presidenta da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, esclarece que a matéria publicada no blog de nome Joselito Muller é falsa. O referido projeto não é de sua autoria, além de nunca ter tramitado no Senado Federal. Informamos, ainda, que a senadora já está tomando as devidas providências junto à Procuradoria Geral do Senado, a Polícia do Senado e à Polícia Federal. Em caso de dúvidas, solicitamos acesso à relação dos Projetos de Lei apresentados pela senadora, conforme consta no link.”
Não sem motivo, o deputado já mencionou mais de uma vez que a internet e as redes sociais se tornaram uma poderosa ferramenta para difamações. E uma cujos estragos são difíceis de combater: o típico leitor de Reinaldo Azevedo, seguidor da Marisa Lobo no twitter, e que segue piamente os mandos e desmandos de um Waldomiro Santiago não vai ler o desmentido que sai na página de um dos órgãos do legislativo, ou de um político progressista, ou um site como Pragmatismo Político, Opera Mundi ou o Bule Voador. Pelo contrário: não raro estão já convencidos de que estes são portais de "mentiras" dos "comuno-gayzistas" (palavras que realmente vi serem proferidas em comentários).
Na política dos EUA, essa tática é usada de forma espalhafatosa pelo G.O.P (Grand Old Party - o partido republicano) para sustentar a espúria alegação de que o presidente Obama (que tem muito a ser criticado, particularmente quanto ao uso de Drones e de escutas) é queniano. Para acusar o governo de ser omisso. E para por em cheque a credibilidade e competência do democrata.
Embora essa seja uma tática suja usada por ambos os lados do debate político - a ponto de ser objeto de uma excelente crítica por parte do novamente citado Jean Wyllys - não posso deixar de notar a prevalência dessa tática por parte da direita. Essa que tanto se diz defensora da moral e dos bons costumes - mas que recorre a usar fotos falsas para difamar políticos e inflar eventos, vídeos editados (e mal) para sujar oponentes, e biografias mentirosas para "chutar o cachorro morto". Nem esquerda nem direita tem o direito de mentir ou de usar informações "manipuladas" para debate - mas era de se esperar que o lado que mais se diz "correto" fizesse isso menos.
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Um movimento "ateu militante" que usava "Deus está conosco" como lema do exército. Faz sentido |
Também faço questão de notar um detalhe importante: enquanto grande parte da esquerda parece reconhecer os erros e pecados do passado - como as mortes ligadas ao comunismo, muito infladas pela direita, mas admitidamente numerosas - o mainstream da direita se esforça em negar seus próprios crimes. Isso incluí a obsessão em dizer que o nazismo e o fascismo foram de esquerda, que Hitler (um católico fervoroso) era "um ateu militante", chegando ao cúmulo de alegar que coisas como a Santa Inquisição foram "marcos civilizatórios", que a religião sempre foi contra a escravidão e a segregação, e que o nazismo era "em nome da Igualdade". Essa obsessão pelo revisionismo histórico é notável na fala do comentarista conservador Kurt Schilichter no vídeo acima - e como ele muda radicalmente de posição de um minuto para o outro.
