quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Morre Campos; Perde a democracia

Perdemos um grande homem - de maneira súbita e inesperada, o candidato do PSB para a presidência da República, Eduardo Campos, faleceu em um chocante acidente aéreo, em Santos. Uma perda para todo o país - quer fosse a intenção de voto nele ou não. Um político experiente, de coragem e inteligência, um homem integro, e que muito fez pelo país quando Ministro da Ciência e Tecnologia - e com essa morte, a democracia brasileira muito perde. Perde nas posições do debate, que se limitam e se restringem. E perde especialmente com as discussões e acusações pobres que se alastram nas redes sociais, nos bares e locais de trabalho, lares e faculdades.

Não demorou muito: tão logo a queda da aeronave que transportava o candidato fora noticiada, esquerda e direita trocavam acusações infundadas de que Dilma, Lula, ou Aécio teriam causado o acidente; acusações que não agregam nada ao debate, mas que servem muito bem para "justificar" agressões e insultos por ambos os lados. Não é hora para especulações; o momento é de luto e de calma. Não podemos permitir que essa perde venha a danificar - ainda mais - a nossa já combalida democracia, tão frágil e tão jovem.

Perderam-se também outras seis vidas. Um total de sete seres humanos mortos, desrespeitados por aqueles que fazem uso politiqueiro da tragédia. Enquanto partidários do PT e do PSDB lançam acusações sem provas, os candidatos dos dois partidos manifestaram seu pesar sobre a morte do candidato - como deveria ser feito. Suspenderam também as agendas de campanha. O mesmo foi feito por Eduardo Jorge, do PV, que lamentou a perda de uma liderança jovem - apenas 49 anos.

Eduardo Campos tinha uma coragem rara na política brasileira: se dispunha a defender posições "controversas", sem temer perder uma parcela do eleitorado. Coisa que já fazia quando ministro - quando defendeu, com sucesso, a pesquisa com células tronco. Agora a campanha passa provavelmente para a vice, Marina Silva - que periga pender em direção aos interesses do eleitorado mais conservador em várias questões sociais. Outra perda para o país, vendo os pactos de governabilidade da atual gestão e do PSDB.

Agora deve ser apurado as causas do acidente fatal - preferencialmente, de forma honesta, sem espaço para politicagens e sem ficar procurando "um culpado" em algo que ao que tudo indica fora uma fatalidade. Não é hora para alegações de sabotagem. Menos ainda para expressar o que há de mais baixo na natureza humana, desejando que outros candidatos passem pelo o mesmo, lamentando que o avião não caiu em Brasília, ou outras expressões de ódio - a hora é de respeito e luto, não de raiva e rancor. Menos ainda de ameaças e insultos, piadas de mal gosto e teorias conspiratórias contra quem quer que seja.

Embora eu não tivesse nenhuma intenção de votar no candidato, pesa-me profundamente a prematura e trágica morte de Eduardo Campos. Com seu súbito falecimento, perdemos todos: a democracia brasileira perde um candidato, o debate se empobrece em meio a especulações e acusações infundadas, e o país perde um grande homem. Por mais que não fosse meu candidato, tenho um profundo respeito por seus feitos quando ministro da Ciência e Tecnologia. Aos colegas e amigos que sejam simpatizantes ou filiados ao PSB, aos familiares e amigos do candidato, e a todos, minhas condolências.

Não nutro nenhuma simpatia por Aécio Neves, e tenho cada vez menos simpatia por Dilma Rousseff - no entanto, mesmo que o avião fosse o de Aécio, ainda lamentaria a perda para a nação - o mínimo a ser feito como ser humano e como defensor da democracia. Desejar a violência contra a oposição não beneficia ninguém, salvo aqueles que buscam o autoritarismo. Estamos de Luto.