quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Politica, mentiras e internet

Eis a imagem fraudulenta em questão. Vale
notar o racismo implícito na imagem também
associando negros ao estupro - e a recorrente associação
de homossexualidade com pedofilia, quando
mais de três quartos das vítimas são meninas,
e 70% dos agressores são brancos. Fonte
Não demorou muito para acontecer novamente: depois da intensa campanha de difamação contra os movimentos LGBT (e em especial contra o deputado Jean Wyllys, do PSOL-RJ) no auge da polêmica cercando o homofóbico, racista e machista deputado Marco Feliciano (PSC-SP), a direita conservadora parece ter "aproveitado" que os ânimos estão inflamados após a visita do Papa para retomar suas velhas mentiras. Ou melhor, voltar ás mesmas mentiras de antes. Novamente veem-se postagens nas redes sociais alegando que o Deputado Jean Wyllys defende a pedofilia.

A tática rasteira já havia sido usada e abusada em março, quando o motivo do golpe baixo foi as críticas do parlamentar do PSOL à posse do pastor e deputado do PSC como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Na ocasião, páginas ligadas à membros da bancada evangélica atacaram com acusações que Wyllys havia "chamado os cristãos de palhaços", atacado a bíblia (o que eleva o tomo sacro para alguns ao posto de único livro imune à críticas) e "dito que o pedófilo era benéfico a criança, em entrevista a rádio CBN". Quase de imediato, as alegações foram desmentidas - mas o estrago estava feito: para os seguidores fiéis dos pastores-mercantes, Wyllys defendia a pedofilia, e os desmentidos "foram comprados".
"A CBN denuncia uma calúnia que vem circulando nas redes sociais contra a emissora. Trata-se de uma informação totalmente falsa sobre uma suposta entrevista do deputado federal Jean Wyllys na qual o parlamentar teria defendido a pedofilia. Tal declaração nunca foi feita na CBN."
Outra vítima das mentiras políticas espalhadas pela internet, onde é mais do que fácil expor uma calúnia anonimamente e "dar o fora" antes que seja rastreado, foi a senadora petista Ana Rita (Espirito Santo):  uma notícia falsa divulgada em maio alegava que a senadora havia proposto a criação de uma bolsa de R$ 2 mil mensais para prostitutas. Embora a assessoria de comunicação do Senado, do PT e da senadora tenham sido ágeis em desmentir a acusação, ainda existem aqueles convencidos da existência da "bolsa prostituta do PT".
O mandato da senadora Ana Rita (PT-ES), presidenta da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, esclarece que a matéria publicada no blog de nome Joselito Muller é falsa. O referido projeto não é de sua autoria, além de nunca ter tramitado no Senado Federal. Informamos, ainda, que a senadora já está tomando as devidas providências junto à Procuradoria Geral do Senado, a Polícia do Senado e à Polícia Federal. Em caso de dúvidas, solicitamos acesso à relação dos Projetos de Lei apresentados pela senadora, conforme consta no link.


Não sem motivo, o deputado já mencionou mais de uma vez que a internet e as redes sociais se tornaram uma poderosa ferramenta para difamações. E uma cujos estragos são difíceis de combater: o típico leitor de Reinaldo Azevedo, seguidor da Marisa Lobo no twitter, e que segue piamente os mandos e desmandos de um Waldomiro Santiago não vai ler o desmentido que sai na página de um dos órgãos do legislativo, ou de um político progressista, ou um site como Pragmatismo Político, Opera Mundi ou o Bule Voador. Pelo contrário: não raro estão já convencidos de que estes são portais de "mentiras" dos "comuno-gayzistas" (palavras que realmente vi serem proferidas em comentários). 


Na política dos EUA, essa tática é usada de forma espalhafatosa pelo G.O.P (Grand Old Party - o partido republicano) para sustentar a espúria alegação de que o presidente Obama (que tem muito a ser criticado, particularmente quanto ao uso de Drones e de escutas) é queniano. Para acusar o governo de ser omisso. E para por em cheque a credibilidade e competência do democrata. 

Embora essa seja uma tática suja usada por ambos os lados do debate político - a ponto de ser objeto de uma excelente crítica por parte do novamente citado Jean Wyllys - não posso deixar de notar a prevalência dessa tática por parte da direita. Essa que tanto se diz defensora da moral e dos bons costumes - mas que recorre a usar fotos falsas para difamar políticos e inflar eventos, vídeos editados (e mal) para sujar oponentes, e biografias mentirosas para "chutar o cachorro morto". Nem esquerda nem direita tem o direito de mentir ou de usar informações "manipuladas" para debate - mas era de se esperar que o lado que mais se diz "correto" fizesse isso menos. 



Um movimento "ateu militante" que
usava "Deus está conosco" como
lema do exército. Faz sentido
Também faço questão de notar um detalhe importante: enquanto grande parte da esquerda parece reconhecer os erros e pecados do passado - como as mortes ligadas ao comunismo, muito infladas pela direita, mas admitidamente numerosas - o mainstream da direita se esforça em negar seus próprios crimes. Isso incluí a obsessão em dizer que o nazismo e o fascismo foram de esquerda, que Hitler (um católico fervoroso) era "um ateu militante", chegando ao cúmulo de alegar que coisas como a Santa Inquisição foram "marcos civilizatórios", que a religião sempre foi contra a escravidão e a segregação, e que o nazismo era "em nome da Igualdade". Essa obsessão pelo revisionismo histórico é notável na fala do comentarista conservador Kurt Schilichter no vídeo acima - e como ele muda radicalmente de posição de um minuto para o outro. 

E para fins de nota: tentei contatar três "postadores" da imagem que abre este texto, para saber sequer se sabiam que a alegação era falsa. Em todos os casos, assim como ocorreu em março, meu comentário foi deletado, minhas mensagens ignoradas, e rapidamente fui bloqueado. Um conselho: se são tão bons, justos, corretos e honestos como dizem ser, que tal demonstrarem?